Tinha uma moça no fim da rua que sempre passava com uma
sacolinha de supermercado.
Quando o sol se punha, ela saía pra beira da calçada e
ficava olhando as estrelas tomarem o céu, pouco a pouco. Talvez naquelas horas,
treinasse a sua paciência.
Antes de dormir, horário fértil para as reflexões, ela pensava
em como a vida se tornava viva. E isso a enlouquecia.
Ela não achava ruim que seus pais brigassem todas as noites,
ela não via mal em suas notas na escola não serem as melhores, ela achava
normal que seus amigos a deixassem de lado, ela deixava de lado a maldade.
E quando olhava pela janela, em quase todas as noites, via a luz discreta da lua contagiando seu adormecer e prolongando uma espécie de torpor – protetor – com o qual, ela tinha se acostumado.
E quando olhava pela janela, em quase todas as noites, via a luz discreta da lua contagiando seu adormecer e prolongando uma espécie de torpor – protetor – com o qual, ela tinha se acostumado.
No dia seguinte, quando as estrelas já tinham sumido e a lua
se escondido, ela se levantava da cama, sem agradecer nem amaldiçoar nada. Ela
só vivia, por viver. Afinal, nada a fazia bem, nada a fazia mal.
Quando chegava na escola e sentava, sua coluna reclamava,
afinal só andava inclinada. Apoiava o rosto nos braços e tentava ouvir as
palavras dos professores, mas só tentava. Sua atenção estava voltada para uma estória que inventava, todos os dias, naquele horário, imaginava e contava
para si mesma, a mesma estória sem fim.
Mas num flash de lucidez, ela ouviu o professor dizer: “As
tartarugas pensam que as sacolinhas plásticas são alimento ou as confundem com
o reflexo da água e as ingerem, causando a morte por asfixia”.
Então, com os olhos
bem arregalados e com o coração tendo um aperto estranho, pensou em quantas
tartarugas ela havia matado. Ficou quente, ficou gelada e sentiu sua consciência,
há muito tempo perdida, voltando, tomando lugar e fazendo-a sentir.
[...].
Mas, depois, como se
numa briga pela sua alma, a calma passiva tivesse sido vitoriosa, apenas pensou:
“Vou levar meus cadernos nos braços, não vou mais pedir sacolinhas pro dono do
mercado”.
E, para se dar por
satisfeita imaginou quantas tartarugas salvaria, e, ousou pensar e ter uma
vontade! Veio lá do coração o desejo de ver uma tartaruga de verdade.
Gostei muito da estória,´e linda é calma e me fez muito bem. Eu também gostaria de salvar o mundo mas não esse mundo, o meu mundo.
ResponderExcluirOlá! Que bom que gostou :)
ExcluirObrigada por contribuir com a impressão que essas palavras tiveram em você. De fato, salvar o mundo é um objetivo nobre. E salvar o seu mundo pessoal já é um grande passo para salvar o mundo de todos nós. O mundo vale a pena!
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